A
recente criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de
Educação Física com a intenção de regulamentar a atuação e as profissões
da área de educação física, surge uma nova polêmica envolvendo o
esporte mais popular do Brasil: será que os técnicos de futebol
necessitam ter uma formação acadêmica em educação física?
Essa é uma discussão que coloca, frente-a-frente, ex-atletas de futebol e profissionais formados em educação física.
Existe
no Brasil um conceito errôneo de que professores de educação física não
serão bons técnicos por não terem sido jogadores profissionais, ao
mesmo tempo destaca-se que poucos são os ex-atletas que sabem ensinar.
Uma coisa é executar com qualidade uma habilidade motora, outra é saber
ensinar uma criança ou um jovem como executar essa habilidade.
Os
dois lados devem ser analisados friamente e de maneira imparcial.
Primeiramente, será analisado a situação dos ex-atletas e depois a
situação dos professores de educação física que não foram atletas
profissionais.
Os ex-jogadores tiveram uma vivência prática muito
grande. Passaram por inúmeras situações que são fundamentais para a
prática esportiva, como diferentes métodos de treinamento, diferentes
tipos de comando, vivenciaram as experiências boas e ruins que ocorrem
durante uma partida e campeonato. O problema é que não possuem
conhecimentos sobre fisiologia, biomecânica, aprendizagem motora,
pedagogia e outras áreas científicas e, também muitos, infelizmente, não
possuem nível intelectual para conduzir esse tipo de trabalho.
Os
professores de educação física possuem conhecimentos em fisiologia,
anatomia, biomecânica, crescimento e desenvolvimento humano, pedagogia,
aprendizagem motora, nutrição, possuem também conhecimento sobre
psicologia, sociologia, medicina e antropologia do esporte. As formas de
ensino das habilidades motoras básicas e específicas do esporte também
são fornecidos na faculdade
de educação física. O problema é que não tem muita experiência em
competição, principalmente de alto nível, muitos começam trabalhando em
escolinhas de futebol.
A questão agora é saber qual o tipo de
profissional é mais qualificado para conduzir equipes de futebol. Já
tivemos profissionais bem sucedidos com os dois perfis, como por
exemplo: Telê Santana (ex-atleta) e Carlos Alberto Parreira (professor
de educação física) e, também profissionais que possuem as duas
formações, como Vanderlei Luxemburgo.
O correto seria supor que
profissionais com as duas formações teriam maiores chances de serem bem
sucedidos, correto? Talvez, mas isso dependerá da individualidade de
cada um e de outros valores pessoais.
Quando pensamos no trabalho
com crianças, é imprescindível ter-se profissionais que possuam
conhecimentos em pedagogia, aprendizagem motora, treinamento esportivo e
outras áreas científicas. Não é necessário pensar em profissionais que
saibam ganhar campeonato, ou pelo menos não deveria ser necessário. As
crianças necessitam desenvolver suas habilidades e não somente pensar em
ganhar. Exigem também, cargas e volumes de treinamento totalmente
diferentes dos adultos. Existem fases apropriadas para cada estímulo
motor, características essas que somente uma pessoa com conhecimento
teórico saberá empregá-las corretamente.
Por ano perdemos
inúmeros garotos com potencial por má instrução, ou seja, muitas
crianças abandonam o esporte por receberem treinamento totalmente
inadequado para sua faixa etária, inclusive correndo sérios riscos a
saúde.
Mesmo para a categoria profissional, os formados em
educação física possuem maiores chances de obterem sucesso na profissão.
São dados que ainda não se tem como comparar, pois poucos são os
professores de educação física que conseguem uma oportunidade para
ingressar nessa profissão se não foram ex-atletas.
Uma das
soluções seria o CREF juntamente com o MEC (Ministério da Educação) e as
faculdades de educação física criarem um curso de habilitação para os
ex-atletas que tivesse uma duração de pelo menos um ano no qual os
profissionais aprendessem as principais matérias científicas pertinentes
a profissão.
O problema é que muitas pessoas acham que não
precisam aprender mais nada, a experiência adquirida durante sua vida
como atletas profissionais foi suficiente para habilitá-los como
técnicos. Esse tipo de problema também ocorre com profissionais
formados. Os profissionais devem se atualizar constantemente.
Sou a favor que os técnicos de futebol possuam uma formação teórica bem embasada, seja com cursos
de educação física ou com algum curso de habilitação de pelo menos um
ano de duração, além dos cursos periódicos de atualização profissional. O
que não pode mais ocorrer é observarmos treinamentos sem o mínimo de
fundamentação teórica, que acabam por prejudicar os atletas em vez de
auxiliá-los no desenvolvimento futuro de suas carreiras ou de sua
formação como cidadãos.
O CREF também não pode simplesmente
proibir que os ex-atletas atuem como técnicos, muitos deles não sabem
fazer outra coisa a não ser viver do futebol. É necessário procurar uma
alternativa que favoreça todos os profissionais e não coloque os futuros
atletas em risco.
O futuro do nosso principal esporte está nas
mãos de pessoas competentes e preocupadas com o correto desenvolvimento
tanto da modalidade esportiva, quanto do ser humano.
Matéria publicada pelo site CDOF